Quando era mais nova eu comia séries médicas. A sério, passava tardes a fazer maratonas de " Anatomia de Grey" ou " Hospital Central", sonhando com a altura em que eu própria vestiria a farda branca e cuidaria dos doentes. Nunca fui daquelas pessoas que desde pequena sabia aquilo que queria ser, foram um conjunto de experiências de vida que foram fazendo com que me apaixonasse por Enfermagem, e ver estas séries foi uma dessas experiências.
Rever estas séries agora, sendo estudante do 3º ano de Enfermagem, é algo bastante engraçado. Sempre tive noção que a televisão não retratava fielmente aquilo que se passa nos hospitais, mas agora é que tenho mesmo noção das coisas que não são, de todo, reais. Hoje vou falar de algumas dessas coisas. Não vou falar das técnicas médicas (não sou médica) e também vos vou poupar de pequenos pormenores porque esses seriam uma lista enorme (catateres mal colocados, soros mal colocados ou a correr à velocidade errada, má técnica de pensos,...).
1. Os médicos fazem tudo: Nas séries, os médicos fazem LITERALMENTE tudo. Além de fazerem o trabalho deles, eles administram medicação, fazem colheitas de sangue, fazem exames, analisam os exames, estão sempre a falar com os doentes, eles até transportam doentes... Na realidade existem enfermeiros, maqueiros, técnicos de ação médica e muitos outros profissionais de saúde para isso. Este é o ponto onde as séries televisivas pecam mais.
2. Falar de casos de doentes em elevadores ou outros locais públicos: Se os médicos fizessem isto na vida real, seriam imediatamente expulsos da Ordem. Nunca se pode falar de nenhum paciente fora do gabinete médico/enfermagem ou do quarto do paciente. Chama-se a isso sigilo profissional, algo que todos os profissionais de saúde levam muito a sério.
3. Sexo no hospital: Ahahahah, ia ser muito bonito se isto acontecesse na vida real. Andavam sempre a mudar de profissionais para substituir a malta toda que foi despedida. Porque é praticamente impossível fazer sexo com alguém no hospital sem ser apanhado. Nas séries, vai tudo para quartos, para arrecadações, elevadores... Meus amigos, em todos esses sítios, por pouco movimentados que sejam, passam a vida a entrar e sair pessoas, mesmo em turnos da noite. Não há nenhum médico/enfermeiro bonzão que compense correr esse risco, lamento destruir-vos esta fantasia.
4. Toda a gente trabalha no mesmo turno: Que conveniente, assim podemos almoçar juntos, lanchar juntos e andar nas coscuvilhices juntos. Quem vê séries médicas tem uma noção um bocado irrealista daquilo que são os horários dos profissionais de saúde. Existem turnos da manhã, da tarde, turnos que duram o dia todo, turnos da noite e, muitas vezes, passam dias até voltarmos a ver certo profissional de saúde.
5. Os partos são muito dramáticos, com gritos e muitas dores: Nas séries, as mulheres que estão prestes a dar à luz estão sempre ali numa aflição, aos berros, cheias de dores, a parir na ambulância... Que dramatismo! Embora um parto possa ser uma experiência muito dolorosa, felizmente, em grande parte dos casos as mulheres não sentem muita dor e tudo decorre sem complicações.
6. Os médicos esfregam as placas do desfribilador : Eu nunca assisti a uma reanimação ao vivo, mas já estudei isto, por isso posso dizer-vos que esta cena de esfregar as placas dos desfibrilador antes de as usar é uma treta. Dá um ar muito fixe aos médicos, mas vida real esse procedimento não serve para nada e até correm o risco de estragar o aparelho.
7. Os profissionais de saúde vão a um bar divertirem-se no final do turno: No final do turno, a maior parte dos profissionais de saúde estão demasiado exaustos para fazer o que quer que seja, quanto mais sair à noite para beber até cair. Só querem é dormir. Até eu, e eu ainda sou estagiária, não trabalho a sério.
O que têm a dizer das séries médicas? Que falhas apontam?








