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15.9.16

Mais anos de vida vs qualidade de vida


Nunca questionei o ciclo da vida. Apesar de já ter desejado não morrer ( quem nunca? Se bem que agora, acho que seria muito torturante e pesado para a alma viver para sempre...), compreendo a importância deste ciclo. Todos nascemos, crescemos e morremos e, se assim não o fosse, existiria um grande desequilíbrio.

Mas se há coisa que me atormenta é ver como as doenças mudam completamente uma pessoa. Tendo eu os meus avós doentes, e sendo eu estudante de Enfermagem, já tive que ver muito disso.

Embora me custe ver pessoas desconhecidas a sofrer com uma doença, custa-me ainda mais ver pessoas que gosto sofrer. E aquilo que me custa muito mais do que tudo isto, é ver a doença a sugar aos poucos a personalidade daqueles que gosto, até nada restar. Chegará uma altura em que olharei para essas pessoas, e não conseguirei reconhecer a simpatia característica delas, o seu sentido de humor, a sua generosidade, não conseguirei ver nenhum traço de personalidade que as caracterizava. Tudo isto porque a doença é um monstro e sugará tudo o que encontrar até nada restar.

Não sei o que é melhor. Se é ver uma pessoa a morrer de maneira que repentina, ou vê-la a morrer aos poucos. Às vezes, acho que a primeira opção era a melhor.  A pessoa em questão não sofria tanto , e não era uma agonia tão grande para nós.  Ter que ver uma pessoa de quem gostamos a morrer aos poucos diante dos nossos olhos é uma verdadeira agonia.

Às vezes questiono-me se o objectivo da Medicina está a ser cumprido. São defensores que devemos proporcionar às pessoas a melhor qualidade de vida que é possível, mas eu só ouço " aquele chegou aos 90 anos", mas ninguém diz com que qualidade de vida , porque preferem omitir a parte em que ele pode já nem estar 100% consciente ou, na pior das hipóteses, já nem saber quem é.

Ao ver os outros a sofrer nos seus últimos anos de vida, também penso em como serão os meus. As doenças mentais, por exemplo, estão a ter cada vez mais incidência, e é muito provável que mais pessoas sofram deste tipo de doenças no futuro. Assusta-me só de pensar que, quando for velha, poderei sofrer deste tipo de doenças, e poderei esquecer-me de quem fui, do que fiz, de todas as pessoas que amei. E poderei sofrer mais do que aquilo que é necessário e, como poderei não estar 100% consciente, não poderei decidir aquilo que é melhor para mim tendo em conta a minha condição de saúde. Sei que é macabro pensar nisto, mas é um cenário que pode acontecer.

Não estaremos a ir longe de mais?  Não estaremos a manter vivas pessoas que já estão condenadas a morrer e, que noutro tempo, teriam tido uma morte mais pacífica e com menos sofrimento? Não estaremos a prolongar o sofrimento das pessoas?

Já vi a Medicina a fazer muitos milagres, e a dar a possibilidade de viver com boa qualidade de vida a pessoas que, noutra época, estariam mortas. No entanto, acho que  a Medicina e a evolução tecnológica e científica em geral poderão estar a ir longe de mais em algumas situações. É preciso compreender que, muitas vezes, mais anos de vida não significa mais qualidade de vida, e deviam exisir mais leis que protegessem as pessoas que estão a sofrer demasiado com uma doença da qual, à partida, não vão escapar vivas.


E vocês? Qual é a vossa opinião sobre o assunto?

18 comentários:

  1. Estou no mesmo pé que tu Cherry, dois avós doentes, a ficaram mais debilitados a cada dia que passa, sem qualquer consciência nisso e pergunto-me se fará sentido mantê-los assim, se é sequer humano eles estarem neste estado. É uma questão muito delicada. Na verdade, penso muitas vezes se não deviam já estar mortos e isto não é de todo um pensamento que contribua para a minha felicidade. Por outro lado, não consigo ficar 100% feliz que ainda estejam vivos, pois, além de eles estarem a sofrer milhões, imagino, nós estamos a sofrer muito também ao vê-los não serem quem são por incapacidade. É mesmo triste.

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    1. Estou numa situação mesmo muito parecida com a tua. Os meus avós também estão doentes, e também ficam debilitados a cada dia que passa. Portanto, sei aquilo que estás a passar e também me debato com as mesmas questões. Por um lado quero que eles continuem vivos, mas por outro também não estou 100 % feliz, porque pergunto-me se vale a pena vê-los a sofrer desta maneira e a perderem a sua personalidade.

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    2. É uma pergunta que acabamos por fazer diariamente. Só queria mesmo que eles levassem a melhor à vida, entendes? Que pudessem sair daqui a sentir-se triunfantes. Trabalharam tanto durante toda a vida, mereciam, no mínimo, um final feliz e tranquilo. Nem um, nem outro o vão ter...

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    3. Compreendo-te perfeitamente, eu também queria que os meus avós tivessem esse final feliz e triunfante, do tipo " fui feliz e fiz tudo o que queria", mas infelizmente têm que sofrer desta maneira no final da sua vida. Não mereciam nada disto.

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  2. Também já pensei seriamente nesse assunto. Às vezes mais vale a pessoa morrer logo "de uma vez" do que estar a sofrer. Sofre ela e sofrem os outros. Mais vale viver menos anos mas repletos de qualidade do que viver muitos anos, mas sem nenhuma qualidade.

    http://cidadadomundodesconhecido.blogspot.pt/

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  3. As pessoas são livres de aceitarem tratamentos ou desistirem dos mesmos caso verifiquem que perderão qualidade de vida. Acontece em muitos casos. E o teu pensamento fez-me pensar na eutanásia: a morte medicamente assistida. Se uma pessoa está doente e em sofrimento, porque não pôr termos à sua vida se tal é a sua vontade? Mas isso levaria-nos a uma discussão ainda maior :)
    Eu penso que seria mais fácil para todos se ninguém sofresse com uma doença: sofríamos todos de morte repentina e já está, ninguém sofre prolongadamente. Mas, infelizmente, a vida não é assim. E há doenças que acabam completamente com uma pessoa e a vai matando aos bocados, fazendo-a sofrer não só a ela como a quem a rodeia. Mas pronto, é a vida. Se é um cenário que me assusta? Claro que sim. Mas não vale a pena pensar nisso por agora :)

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    1. Muitas pessoas opõem-se à eutanásia e à morte medicamente assistida (parecendo que não, são duas coisas diferentes, a minha primeira tem a ver com pôr fim à vida de uma pessoa mesmo esta não estar consciente, e a última tem a ver mais com o suicídio assistido , que se faz na Suíça, por exemplo) e, apesar de compreender o ponto de vista dessas pessoas, considero que se uma pessoa está a sofrer muito tem o direito de escolher se quer viver ou não.
      Infelizmente, penso nisto mais do que devia, por causa de ter os meus dois avós doentes.

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  4. Hum, fiquei intrigada com a tua opinião mas percebo-a e em certo modo concordo embora ache que é impossível adiar a morte de quem quer que seja !

    Beijinhos, Hellen
    http://instantesimprovaveis.blogspot.pt

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    1. É o meu ponto de vista, às vezes questiono-me se vale a pena ver as pessoas morrer aos poucos, ou se seria preferível elas morrerem repentinamente. Sei que é um pouco macabro pensar nisto, mas são questões existenciais.

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  5. Olha isto é um tema que me é muito querido... sou Enfermeira, então lido com os enfermos todos os dias do meu trabalho. Desde à salvação de um bebé doente, à cirurgia de um idoso de 90 e tal anos para prolongar a sua vida por mais uns meses.
    É difícil... muito difícil.

    Beijinhos,
    O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin'

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    1. Pois é, como enfermeiros lidamos muito com este tipo de situações.

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  6. Infelizmente é a vida. Sim é terrivel ver os que mais gostamos sofrer da maneira que sofrem com doenças terriveis. Mas ver sofrer os outros também não é nada agradavel, e quando os vemos num leito de morte, é como se fossem dos nossos. Pensamos nas suas familias, mas é ai que vemos que nem tudo são flores. Ja vi em um lar de idosos, onde eles sofriam sozinhos, pois a familia não ia ve-los. E pessoas com quem trabalhei ja viu morrer idosos doentes e so ir ela e uma enfermeira (porque a familia não se dignou a aparecer) Agora pergunta se na hora das partilhas não foram ver se lhes tocava algo? Pois....
    Mundo de hoje :'(

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    1. Infelizmente, sim :(.
      Tenho mesmo pena desses idosos, que são abandonados assim em lares de idosos, e só querem saber deles para a herança. Uma coisa é os filhos porem-nos lá por causa do emprego e irem lá visitá-los regularmente, outra coisa é largá-los.

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    2. é triste de ver. Mas por um lado até é melhor a pessoa estar num lar de idosos. São alimentados, tratados e recebem todos os cuidados e o amor que não tem da familia. Antes isso que serem largados em casa e maltratados. O que tem acontecido muito. Mesmo sendo triste e apertar o coração ao ver a tristeza no olhar deles num lar de idosos.

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    3. É verdade, mais vale estarem num lar de idosos com todas essas boas condições, do que sozinhos na casa deles, sem se alimentarem ou tomarem os medicamentos.
      Imagino. Este ano vou ter experiência de ver de perto essa realidade, vou estagiar num lar de idosos em fevereiro, penso eu.

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  7. Lamento o teu caso e de muitos que têm de ver as pessoas que gostem a sofrer, que não têm a melhor qualidade de vida, mas as pessoas vão embora quando tiverem de ir. Sofrer sempre fez parte da vida, mas estás certa quando dizes que a medicina já salvou bastante gente, mas que ao mesmo tempo só prolonga o sofrimento de uma pessoa. Mas acho que as mesmas têm sempre aquela esperança que ficaram boas.

    https://recomecar-mariana.blogspot.pt/

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    1. Infelizmente, sim, sofrer faz parte da vida, mas às vezes pergunto-me se em certas coisas a medicina não estará a prolongar demasiado esse sofrimento.

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